Quantas histórias somos capazes de acompanhar ao mesmo tempo?
Neste momento de quarentena, leio cinco livros em paralelo. Vamos às estatísticas: um está em espanhol, os outros quatro em português; um é versão digital e quatro são impressos; entre os autores, temos um americano, uma nigeriana, uma chilena, um russo e um franco-argelino.
O debate sobre ler um livro de cada vez ou conciliar vários é bastante amplo e depende do que funciona para cada leitor. No entanto, o principal argumento contra a leitura simultânea, que envolve a possível confusão entre histórias, para mim é combustível. Em qualquer terça-feira, acompanhamos a vida de um amigo que fica noivo, de outro que está viajando, o desespero de um irmão mais novo em véspera de prova e a transferência de um jogador de futebol para outro clube. Tudo isso pode se tornar uma baita novela. Somos atualizados com fotos e vídeos, conversamos com os colegas no horário de almoço. Se eu me puser a pensar na consulta da minha avó com o geriatra e no horário da minha próxima reunião com o gerente no mesmo intervalo (e se meu cérebro estiver em boas condições), é a voz grave e com sotaque mineiro do chefe que dirá “14 horas” na memória, não a entonação doce da vó. Espera aí. A vó também é mineira. Nesse caso, está pavimentado o caminho para a confusão. Mas caso eu misture tudo, certamente me divertirei ao contar essa história ou me divertirei sozinho ao me imaginar acompanhando o gerente ao consultório do geriatra.
Acredito que, ao expandir o universo de leituras, cada livro te ajudará a entender os outros um pouco melhor. Frases se encaixam, traços de personalidade se encontram.
Tentemos:
Clara, Blanca e Alba (A casa dos espíritos) são mulheres corajosas que vivem num ambiente tomado por conflitos políticos, assim como Zélie (Filhos de sangue e osso), que traz toda a insubordinação jovem e a vontade de desafiar o sistema opressor. Essas mesmas características ficam claras em Henry Chinaski (Factótum), que não se encaixa no formato padrão de vida e se põe contra todos, assim como o protagonista de Memórias do subsolo. Chinaski ainda sofre de solidão e vive no limite do isolamento por ser um escritor introvertido, bem como esse Diego que escreve enquanto cumpre quarentena para se proteger de um problema crítico de saúde pública, semelhante à epidemia enfrentada por Rieux (A peste). Tudo no mesmo parágrafo remendado.
Se juntar tudo, dá uma realidade e tanto.
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Falamos disso essa semana! Mas particularmente ainda prefiro ler uma coisa de cada vez.
Parabéns e vida longa à coluna.
Grande abraço!
Verdade! O importante é encontrar o que funciona pra cada leitor mesmo. Obrigado!
Mais uma vez, como sempre, você esbanja genialidade em tudo que escreve. Parabéns por mais um texto incrível, continue assim! Poder acompanhar sua trajetória no mundo literário é um prazer imenso para todos os seus leitores!
Muito obrigado! Fico feliz que tenha gostado.
Adorei as conexões! Eu nem sempre conecto os personagens, mas muitas vezes o olhar e a escrita dos autores. Você por dentro é de humanas mesmo.
Sou sim, não tenho dúvidas! É um exercício legal de fazer, às vezes a ideia surge bem fácil. Também costumo relacionar muito as escritas, tem muitos autores que parecem conversar (:
Adorei!!!
Obrigada pelo carinho! desculpe pela demora para responder. Período de adaptação!
Acho inacreditável sua habilidade de mesclar histórias, personagens, locais…sim, eles estão ali, na nossa frente, mas não conseguimos enxergar e você, com uma capacidade de armazenar informação impressionante, reune tudo e todos para nós. Parabéns!
Muito obrigado! Acho que é um exercício que eu fui aprimorando ao longo do tempo, mas todos podem fazer (:
Adorei o nome da coluna “Austeridades”, é a sua cara! Achei esse espaço muito legal, você precisava de outro lugar para falar o Instagram estava pequeno pra você. Esse site vai ser incrível. Sua seguidora é fã!
Aline, muito obrigado! Esses comentários me incentivam demais a continuar fazendo esse trabalho.