Antologia de poesia afro-brasileira: 150 anos de consciência negra no Brasil

por | 10/05/2018 | Poesias | 0 Comentários

Autor(es): Zilá Bernd (Org.)

Lançamento: 2011

Mais uma vez, é uma grande honra poder compartilhar esta resenha do professor Rafael Ottati (Instagram @elrafa.lit).

SUGESTÃO DE LEITURA: Zilá Bernd (Org.), “Antologia de poesia afro-brasileira: 150 anos de consciência negra no Brasil.”

Já tem algum tempo que eu não dou dicas de poesia, né? Pois bem, vamos lá!

Ao longo de séculos, operou-se um tal silenciamento brutal de vozes, que muitos poetas não conseguiram espaço nas antologias e manuais de literatura para se expressar, tendo sido calados. Outros, até conseguiam espaço (Machado de Assis, por ex.), mas suas informações biológicas eram omitidas ou seus textos mais combativos era ignorados…

O processo de reconhecimento de um escritor só pode ser feito através de uma relação complicada: o de seleção-exclusão. Desta maneira: ao se escolher algo, todas as outras opções são excluídas.

Com isso, o que chamamos de “Literatura Brasileira” se tornou um palco para apenas alguns tipos de vozes: majoritariamente masculinas e brancas.

Por isso tudo, é importante sempre rever e criticar o cânone. Temos que estar atentos para que as vozes, geralmente em situação social marginalizadas, sejam ouvidas.

Esta Antologia, portanto, é excelente. Há 2 motivos básicos: por mostrar poemas dos 1800 que NÃO estudamos na escola (o que nos mostra uma faceta diferente de poetas conhecidos) e por vir até os dias de hoje, com autores sobre quem não ouvimos falar com facilidade (pelo mesmo processo de silenciamento).

Separei três poemas-socos no estômago…

 

Heraclitiano (Carlos Machado, 2006)

“na segunda chicotada
você já é outro
— não importa o lado
do chicote”

 

Emparedado [trechinho] (Cruz e Souza, 1898)

“Artista! pode lá isso ser se tu és da África, tórrida e bárbara, devorada insaciavelmente pelo deserto, tumultuando de matas bravias, arrastada sangrando no logo das civilizações despóticas, torvamente amamentada com leite amargo e venenoso da Angústia!”

 

Vozes-Mulheres [trechinho] (Conceição Evaristo, 2008)

“[…]
A voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
no fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela.
[…]”

 

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Mariana Gago

Advogada e entusiasta do papel transformador dos livros. Idealizadora e editora do projeto Recanto da Literatura.

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