Quem fez a gentileza de selecionar para a gente esses dois poemas de Gilka Machado, publicados originalmente no livro “Estados da Alma”, de 1917, foi o professor de literatura, Rafael Ottati (Instagram @elrafa.lit).
Particularidades
Muitas vezes, a sós, eu me analiso e estudo,
os meus gostos crimino e busco, em vão torcê-los;
é incrível a paixão que me absorve por tudo
quanto é sedoso, suave ao tato: a coma… Os pêlos…
Amo as noites de luar porque são de veludo,
delicio-me quando, acaso, sinto, pelos
meus frágeis membros, sobre o meu corpo desnudo
em carícias sutis, rolarem-me os cabelo
Pela fria estação, que aos mais seres eriça,
andam-me pelo corpo espasmos repetidos,
às luvas de camurça, às boas, à pelica…
O meu tato se estende a todos os sentidos;
sou toda languidez, sonolência, preguiça,
se me quedo a fitar tapetes estendidos.
Particularidades 1 (Na plena solidão)
Na plena solidão de um amplo descampado,
penso em ti e que tu pensas em mim suponho;
tenho toda afeição de um arbusto isolado,
abstrato o olhar, entregue à delícia de um sonho.
O Vento, sob o céu de brumas carregado,
passa, ora langoroso, ora forte, medonho!
tanto penso em ti, ó meu ausente amado!
que te sinto no Vento e a ele, feliz, me exponho.
Com carícias brutais e com carícias mansas,
cuido que tu me vens, julgo-me toda nua…
– sou árvore a oscilar, meus cabelos são franças…
E não podes saber do meu gozo violento,
quando me fico assim, neste ermo, toda nua,
completa-te exposta à Volúpia do Vento!
Gilka Machado
(1893 – 1980)
Poeta simbolista, nascida no Rio de Janeiro, foi uma das primeiras mulheres a escrever poesia erótica no Brasil. Foi uma das fundadoras do Partido Republicano Feminino (em 1910), que defendia o direito das mulheres ao voto.
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