Nosso Carlos Drummond de Andrade também era um fã de futebol. E para ilustrar, escolhi dois poemas, publicados no livro “Quando é dia de futebol”, publicado, em 2002, pela Editora Record e republicado, em 2014, pela Companhia das Letras – reúne crônicas e poemas que Drummond escreveu entre as Copas do Mundo de 1954 e 1982, em sua maioria, para os jornais Correio da Manhã e Jornal do Brasil e selecionados por Luis Mauricio e Pedro Augusto Graña Drummond, netos do poeta.
Futebol
Futebol se joga no estádio?
Futebol se joga na praia,
futebol se joga na rua,
futebol se joga na alma.
A bola é a mesma: forma sacra
para craques e pernas de pau.
Mesma a volúpia de chutar
na delirante copa-mundo
ou no árido espaço do morro.
São voos de estátuas súbitas,
desenhos feéricos, bailados
de pés e troncos entrançados.
Instantes lúdicos: flutua
o jogador, gravado no ar
— afinal, o corpo triunfante
da triste lei da gravidade.
Meu coração no México (junho de 1970)
Meu coração não joga nem conhece
as artes de jogar. Bate distante.
da bola nos estádios, que alucina
o torcedor, escravo de seu clube.
Vive comigo, e em mim, os meus cuidados.
Hoje, porém, acordo, e eis que me estranho:
Que é de meu coração? Está no México,
voou certeiro, sem me consultar,
instalou-se discreto, num cantinho
qualquer, entre bandeiras tremulantes,
microfones, charangas, ovações,
e de repente, sem que eu mesmo saiba
como ficou assim, ele se exalta e vira coração de torcedor,
torce, retorce e se distorce todo,
grita: Brasil! Com fúria e com amor.
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