Esta linda resenha foi feita pela amiga Mari Araújo (Instagram @guardiadaestante).
Escolhida a primeira obra a ser desbravada no meu projeto “Mulheres [Negras] na Literatura”, e não poderia deixar de ser a obra da minha princesa-rainha, Conceição Evaristo. #coleçãomulheresnegrasnaliteratura
A obra reflete poeticamente sobre ancestralidade, maternidade, sonoridade, empatia, religiosidade e herança histórica.
VOZES-MULHERES
A voz de minha bisavó
ecoou criança
nos porões do navio.
Ecoou lamentos
De uma infância perdida.
A voz de minha avó
ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.
A voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
no fundo das cozinhas alheias
debaixo de trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela.
A minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
e
fome.
A voz de minha filha
recorre todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.
A voz de minha filha
recolhe em si
a fala e o ato.
O ontem – o hoje – o agora.
Na voz de minha filha
se fará ouvir a ressonância
O eco da vida-liberdade.
________ Conceição Evaristo, em “Poemas da Recordação e outros movimentos”, 2008. Editora Malê.
Minha obra (ed. de 2017) foi autografada na FlinkSampa – Festa do Conhecimento, Literatura e Cultura Negra, realizada na Faculdade Zumbi dos Palmares.
Como sempre, a escritora mineira exala amor por todas as linhas. E ainda quando se mostra severa, Conceição é carinhosa ao se fazer compreender. “Trago na palma das mãos/a pedra retirada/do meio do caminho” (em “Amigas”).
Não sei de onde ela tira tanto amor, compreensão e paciência. Durante toda a leitura, tento assimilar com paixão cada reflexão e ensinamento para me fazer uma pessoa melhor. Ainda me sustento na revolta, não nego. E venho usando as obras de Conceição para me reconstruir.
Estou muito feliz em finalmente iniciar meu projeto.
E meu sonho é ver mais obras da Conceição Evaristo sendo lidas por aí!
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