Tomi Adeyemi, nascida em 1 de agosto de 1993, é uma romancista norte-americana, filha de pais nigerianos, que já é conhecida por aqui por seu livro de estreia “Filhos de Sangue e Osso” (2018), o primeiro da trilogia “O Legado de Orïsha”, publicado no Brasil pelo selo Fantástica Rocco, da Editora Rocco.
Seguindo uma trilha aberta por autores consagrados de origem nigeriana, como Chinua Achebe, Flora Nwapa, Wole Soyinka (vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 1986) e Buchi Emecheta, e de outros que já estão ocupando um lugar destacado no mundo da literatura, como Teju Cole, Chimamanda Ngozi Adichie e Ayòbámi Adébáyò, Tomi vem contribuindo para trazer um olhar africano para a história e cultura de um continente que durante séculos só foram contadas do ponto de vista exterior.
Com a benção dos Orixás
Depois de se formar com honras em Literatura Inglesa, em Harvard, veio com uma bolsa de pesquisa para Salvador estudar comparativamente as culturas afro-brasileira e afro-americana e a história da escravidão no Brasil. Aqui, o contato com a cultura e a religião da matriz africana e suas divindades negras representadas em orixás pintados em azulejos influenciou nos seus estudos posteriores sobre mitologia iorubá e cultura da África Ocidental e na sua obra literária.
Em entrevista concedida ao jornal australiano, The Sydney Morning Herald, a autora afirmou que a inspiração para o seu romance de fantasia foi a vida real, por influência do Movimento “Black Lives Matter” (Vidas Negras Importam, em tradução livre). A violência que é tema de seu livro corresponde aos momentos históricos e atuais de violência contra os afro-americanos: “A Fantasia é uma lente tão maravilhosa porque todo obstáculo no livro está ligado a um obstáculo que os negros enfrentaram recentemente como hoje ou recentemente, há 30 anos.”
“Por isso eu sou tão militante sobre representatividade agora. Porque sei de todas as questões de autoestima por que passei e a forma como as internalizei. Eu achava que não era digna – que eu não poderia estar nas histórias nem mesmo se eu as criasse. Eu não quero que ninguém mais se sinta assim”, diz a autora depois de declarar que seus personagens nos contos que escrevia quando nova nunca eram pretos.
Reino de Orïsha
“Filhos de Sangue e Osso” dá início a narrativa da heroína Zélie Adebola, que perde sua mãe aos 6 anos, na sua tentativa de restaurar a magia no reino ficcional de Orïsha, onde co-habitam os kosidán, povo do Rei Saran, e os maji, que são escravizados após perderem seus poderes mágicos. A fantasia, que se baseia na cultura e mitologia iorubá, também levanta o tema real da segregação relacionado às questões de raça e classe, onde a opressão através brutalidade e da escravização é a forma de controle imposta aos maji.
O segundo livro, que dá seguimento à trilogia “Children of Virtue and Vengeance”, lançado no fim de 2019, ainda é aguardado por aqui. Além disso, os estúdios Disney e Lucasfilm, o mesmo de Star Wars e Indiana Jones, estão em conversas com a jovem autora para levar a trilogia para as telas de cinema.
O livro não só está gerando grandes resultados financeiros, como já valeu um Prêmio Nebula, em 2018, e uma posição entre os finalistas do Prêmio Hugo, em 2019. Estes são as duas mais tradicionais e importantes premiações da ficção científica e fantasia.
A curta carreira não impediu Tomi de se envolver em polêmica: logo após o lançamento do seu primeiro livro, a autora acusou, por meio de sua conta no Twitter, a romancista norte-americana, Nora Roberts, de plagiar o nome da sua obra. Embora tenha se retratado após constatar a simples coincidência, Nora criticou bastante a falta de conhecimento da estreante acerca dos processos e tempos envolvidos na publicação de um livro e por, além disso, simplesmente, não haver plágio para títulos.
Achei muito interessante trazer para vocês, porque é um assunto muito ligado ao projeto do Recanto da Literatura. Tomi é declarada leitora voraz de ficção jovem-adulto (ou young-adult, como vêm sendo chamados também aqui no Brasil) e poesia. Para ela, os melhores livros YA também tem contextos e personagens complexos e bem construídos, além de uma prosa de qualidade. E essa foi uma questão abordada por ela em entrevista para o The New York Times no fim do ano passado. Para ela, “a grande maioria dos clássicos americanos foram arruinados porque a obrigaram a lê-los muito nova.” Ela pensa em fazer suas releituras com foco e para poder “se certificar de não ter gostado do que a sociedade considera como clássicos porque realmente não gostou da história ou porque não a entendeu quando tinha 12 anos.”
Se quiser ler as entrevistas na íntegra: The Sydney Morning Herald e The New York Times.
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